Prevenção, direitos e acesso ao cuidado integral: Novembro Azul também é para os homens trans
O Novembro Azul, tradicionalmente associado ao câncer de próstata, tem se consolidado como um movimento nacional de promoção da saúde do homem. Entretanto, especialistas apontam que a campanha precisa abraçar todas as masculinidades, incluindo homens trans.
Ao contrário do senso comum, homens trans não possuem próstata, e, portanto, não fazem parte do público-alvo para câncer de próstata. Porém, continuam sujeitos a outros tipos de câncer e condições que exigem atenção regular. A prevenção, nesse caso, deve ser ampliada para contemplar os riscos reais e as especificidades dessa população.
Segundo a enfermeira Cissa Cardoso, mestre em Educação, especialista em Saúde da População LGBTQIA+, e professora do curso de Enfermagem da Estácio, homens trans, que mantêm órgãos reprodutivos internos, precisam realizar exames de rotina, e o rastreamento mais importante atualmente é o do câncer de colo do útero.
Em 2025, o Ministério da Saúde iniciou a implementação, no SUS, do teste molecular de DNA-HPV como substituto progressivo do exame de Papanicolau. O teste de DNA-HPV é mais sensível, detecta precocemente o vírus associado ao câncer de colo do útero e pode ser realizado com maior conforto e privacidade.
”Além disso, para aqueles que possuem tecido mamário residual, mesmo após mastectomia masculinizadora, o rastreamento continua fundamental”, explica Cissa, dizendo ainda que a prevenção também envolve acompanhamento da hormonioterapia, vacinação em dia – incluindo HPV e hepatites -, avaliação de ISTs, saúde sexual e reprodutiva, saúde mental e consultas de rotina.
Barreiras que afastam homens trans dos serviços
Apesar de terem direito ao cuidado, muitos homens trans evitam procurar atendimento devido ao uso inadequado do nome social, ao desconhecimento técnico das equipes, campanhas que não os representam, constrangimento nos consultórios e o medo de discriminação.
“Essas barreiras contrariam princípios básicos da Política Nacional de Saúde Integral LGBT, em vigor desde 2011, que exige atendimento humanizado e livre de preconceito”, acrescenta a coordenadora, frisando a importância da inclusão deste público no Novembro Azul.
“Homens trans têm corpos que precisam de cuidado e vidas que precisam ser protegidas. A prevenção é uma ferramenta universal, mas só funciona com acesso e acolhimento”.
Para um Novembro Azul mais justo e verdadeiro
Profissionais de saúde defendem que o movimento deve adotar uma abordagem mais inclusiva, com:
– materiais informativos representativos;
– linguagem que contemple diferentes identidades masculinas;
– capacitação continuada das equipes;
– consultórios com fluxos independentes e acolhedores;
– campanhas institucionais que reconheçam os direitos garantidos por lei.
“O Novembro Azul não precisa e não deve ser apenas sobre câncer de próstata. Ele deve ser sobre cuidado, prevenção e dignidade para todos os homens. Homens trans existem, têm direitos garantidos e precisam ser vistos, incluídos e protegidos pelas campanhas de saúde do país. A saúde é um direito universal. E direito só existe quando é garantido na prática”, conclui.
Com informações da assessoria



